25/06/2010

A festa não é mais de Babette

( Artigo publicado no jornal de lançamento do projeto innside, um empreendimento novo da construtora RottaEly. )



Em 1825, o filósofo e gourmet francês Jean Anthelme Brillat-Savarin escreveu: “ diga-me o que comes e te direi quem és “. Como a ordem dos fatores nem sempre altera o produto, imagino que uma leitura inversa de tal afirmação ainda forneça um efeito semelhante: “diga-me quem és e te direi o que comes “.

Pois é. O mundo desde lá rodou. Conectou-se. Globalizou-se. Tornou-se mais permeável, fluido, ágil, impaciente. Exigente. A tecnologia - entre outras façanhas - encurtou as distâncias metamorfoseando o algo-entranho em algo-familiar. As linhas divisórias dissolveram-se, então. Informação e mobilidade são, agora, palavras de ordem: à velocidade de poucos cliques do mouse ou do controle remoto, migramos do Marrocos para a Índia passando pelo Peru via o Ártico com conexão em Portugal. Em “speeds” menores – porém não menos impressionantes – nos deslocamos fisicamente para qualquer ponto do globo em questão de insignificantes horas. A caleidoscópica multiplicidade de escolhas determina a permuta de hábitos antigos em favor de outros novos, impondo mudanças nos vários segmentos da vida pública e privada. Pois é. Run Lola, run !!

E de que forma isso afeta a maneira como nos relacionamos hoje com a comida num contexto, digamos, de âmbito social? De vários jeitos, eu diria. Mas a palavra indubitavelmente mais “hot” do momento - e creio que a mais significativa para defini-lo - é degustação.

Com universos gastronômicos sendo despejados diariamente em nossas retinas, somos expostos aos mais diversos tipos de tentações. Estamos, então, mais curiosos, mais desejosos e ávidos para experimentar. Menos dispostos a aceitar a previsibilidade monocórdica do “muito-de-uma-coisa-só“, optamos pelo êxtase da pluralidade, pela multiculturalidade do “de-tudo-um-pouco“. Comportamo-nos, assim, como crianças de olhos gordos e bem arregalados que correm freneticamente de um lado para o outro em uma loja abarrotada de chocolates. Queremos provar todos. Pelo menos um de cada. Ueba!!

A mobilidade nos encontros de pessoas que envolvem comida tornou-se também um fator marcante e até necessário nesse novo jeito. As relações sociais estão mais desprendidas. A ampliação das redes de contatos, sejam elas de ordem pessoal ou comercial, faz-se obrigatória. O familiar e estabelecido “sit-down-dinner”, ao frustrar a fluidez, cede espaço a um novo tipo de celebração, onde é relegado a um plano secundário o que outrora era considerado indispensável: a presença de mesas e cadeiras. Os tradicionais pratos de comida com limitadas escolhas são substituídos por uma grande gama de pequenas porções móveis e nas mais variadas cores, formas e sabores: finger food, hors d’oeuvres, tapas, canapés, petiscos, cumbuquinhas, comidinhas ... Os convidados encontram-se finalmente livres para trafegar portando seus pequenos bocados de multi-guloseimas de um lado para outro, de um contato ao outro, de um bate-papo a outro, em um ritual de ininterruptos degustares - literais e metafóricos.

Pois é. Vivenciei muito isso nos meus gratificantes anos de New York, ora no ofício de chef, ora na condição de convidado. Ao voltar para Porto Alegre, entretanto, percebi que essa tendência era ainda um pouco tímida em relação à intensidade de um centro hiper-ativo como aquele. Porém, com o passar do tempo, tenho notado uma mudança significativa na maneira de como estamos modificando nossos hábitos e incorporando esse novo jeito de celebrarmos nossas vidas ao redor da comida. Se veio para ficar, não posso afirmar ainda. Mas tudo leva a crer que sim. Pelo menos até o momento do próximo wave de um novo comportamento. Mas de uma coisa eu tenho a absoluta certeza : Babette estranharia muito tudo isso. As leis que um dia regeram sua cozinha estão baseadas em outros parâmetros, que são, de certa forma, incompatíveis com essa nossa contemporaneidade. Sua festa certamente não teria mais o mesmo apelo nesses dias de pós-modernidade. E isso é bom ou ruim? Estamos, afinal de contas, melhores ou piores? It doesn’t matter at all, after all. Existe, sim, apenas uma coisa que realmente importa: Let’s just celebrate ! Send in the food !!

Receita: beringela caprese
(Para 20 unidades)

1 bola pequena de mozzarela de búfala, cortada em pedaços pequenos
10 tomatinhos cerejas, cortados ao meio
2 dentes de alho, picados
½ cebola pequena, cortada em fatias finas
1 colher de sopa de orégano fresco picado, ou 1 colher de chá de orégano seco
Micro folhas de manjericão
5 mini beringelas, cortadas em moedas de 1 cm de largura
1 ovo batido
3 colheres de sopa de farinha de trigo
5 colheres de sopa de farinha de rosca
Sal e pimenta do reino a gosto
óleo de oliva

Procedimento

1. Misture os tomatinhos, o orégano, o alho, a cebola. Tempere com sal, pimenta do reino e um pouco de óleo de oliva. Leve ao fogo baixo e asse até desidratar. Reserve.
2. Coloque a farinha de trigo, o ovo batido e a farinha de rosca em 3 recipientes separadamente.
3. Passe cada moeda de beringela na farinha de trigo, no ovo e , por último, na farinha de rosca.
4. Em uma frigideira com um dedo de óleo de oliva, frite as beringela de ambos os lados até dourar. Escorra em um guardanapo de papel e reserve.
5. Ao servir: Disponha um pedaço de mozzarela sobre cada beringela. Sobre elas arranje meio tomatinho seco e leve ao forno pré-aquecido ( 200 graus ) até o queijo derreter. Retire do forno, coloque uma folhinha de manjericão no topo e sirva. Yummy! Bom apetite!

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foto: llunkes

27/04/2010

aula tailandesa dia 31 de maio


















Curso de Cozinha Tailandesa, dia 31 de maio as 19:30 horas no
La Gourmandise ( Rua Carlos Trein Filho, 1100 – Bela Vista ) . Maiores informações pelo fone 3333.8450.



Ma hor : Cavalos Galopantes

O “cavalo galopante” é um finger food à base de uma pasta aromática de frango e porco servidas sobre “moedas” de manga, abacaxi e kiwi. O equilíbrio perfeito entre o salgado, o doce e o amendoado dessa pasta contrasta maravilhosamente bem com os tons cítricos das frutas. Uma maneira simples, colorida e elegante de começar o seu jantar tai. Podem ser servido como uma entrada quando acompanhados de uma saladinha.

Pat-prik king muu bpaa : Stir-fry de cubos de filezinho de porco com vagem, cenouras, aipo e pimenta verde servidos em bowl de rolinho primavera

Um stir fry é uma técnica antiga de cozimento originária da Asia onde os vegetais e as carnes são submetidos a uma rápida exposição de calor em alta pressão deixando-os crocantes e super saborosos. A presença de uma pasta aromática como base nessa receita cobrecom um verniz aromático os demais ingredientes . O perfume é irresistível ... de dar àgua na boca.

Curry verde de vieiras, camarão e sausage de vitela com milho baby e shiitakes

Pode até não parecer, mas as sausages ( sai ouah) ) são muito populares na Tailandia e há dezenas de variações delas pelo pais afora. Nesse prato elas são delicosamente combinadas com vierias ou camarões , milho baby e shiitakes. Um curry diferente e saboroso.

24/01/2010

Oh Julia. We beg you for more butter !



Oh, Julia. We beg for more butter, please !

A sinopse do Julie &Julia já nos sugeria quem seria essa personagem ímpar que, segundo o The New York Post, deixou a sua indiscutível marca na cultura do século 20: “with the right combination of passion, fearless and butter, anything is possible.” Bingo! Julia Child era a exata combinação de todos esses ingredientes estranhamente harmonizados com o seu corpão de proporções engrandecidas: era uma mulher apaixonada, destemida e saborosamente amanteigada. Muito amanteigada. Como a sua cozinha.

Seus admiradores afirmam que são três as razões pelas quais essa inusitada chef é imensamente amada pelo seu fiel público : porque era uma pessoa íntegra, dócil e super easy going; porque encontrou uma maneira (e que ninguém sabe muito bem como! ) de ficar por tantos anos em uma cozinha sem atear fogo no seu cabelão quimicamente armado e, por último, porque dizia aos americanos nos seus imperdíveis programas de tv que não haveria nenhum problema se algum alimento caisse acidentalmente ao chão pois eles provavelmente seriam os únicos que estariam na cozinha testemunhando aquela queda. Ou seja, “simplesmente junte o naco e faça de conta que nada aconteceu”. Cute, isn’it? Também acho. Mas imagino que Julia era admirada, acima de tudo, por ser um ser persistente. Muito persistente.

Isso me faz lembrar uma histórinha divertida que uma amiga pessoal de Julia me contou certa vez. Estavam as duas preparando um aioli, uma espécie de maionese francesa. O angú não estava dando nada certo. Dorothy, a amiga, estava bastante frustrada com o não-resultado. Após várias tentativas e proporcionais erros, jogaram tudo para o alto e desistiram da empreitada. Comeram o aioli assim mesmo, todo errado. Logo após o almoço, Julia, estranhamente animada, levanta-se de sobresalto e esbraveja com sua inconfundível voz de desenho animado ( assustadoramente bem reproduzida por Meryl Streep no filme, por sinal) : “Dorothy, voltemos agora à cozinha. Let´s get it right! “ Ela tinha, então, 85 anos e já havia preparado inúmeros aiolis em sua longa vida quixotesca. Mas estava determinada a acertar aquele! E não haveria santo que a fizesse mudar de idéia.

Tive a feliz oportunidade de conhecer Misses Child em uma ocasiâo durante os meus anos na big apple. Julia esteve em uma tarde no The French Culinary Institute para dar uma aula-demonstração no anfiteatro dessa renomada escola de gastronomia plantada à esquina da Grand Street com a Broadway, no Soho. Naquela época, eu trabalhava no Setor de Eventos do Anfiteatro e fôra destacado, juntamente com outras pessoas, para auxiliar a vovó Child na preparação e execução de sua breve aula. Iria, finalmente, conhecer essa grande-figura-grande de quem eu já me sentia íntimo, de uma certa forma, de tanto ouvir falar nela e de assistir a seus engraçados programas de gastronomia.

É praticamente desnecessário dizer que aquela foi uma tarde muito bacana. Julia Child, apesar da sua idade super avançada e de seu visível cansaço, foi formidável. Um doce de pessoa. Interessou-se por todos à sua volta. Quis saber um pouco sobre a trajetória de cada um. Envolveu todos de uma forma amável, delicada e com o seu característico bom humor. Solicitava por auxílio de uma forma muito respeitosa e franca. Dez para a Juju ! Mais uma vez é provado, através dessa incrivel senhora, que a marca dos grandes é definitivamente a humildade, a simplicidade, a paixão, o esforço e , no caso de Julia Child, a manteiga. A lot of it !

Vinagrete Básico ( traduzido de seu livro Julia’s Kitchen Wisdom)

Que tal dar um upzinho na sua saladinha de verão? Julia pode ensinar como.

½ colher de sopa de cebola roxa, finamente picada
½ colher de sopa de mostarda dijon
¼ de colher de chá de sal
½ colher de sopa de suco de limao
½ colher de sopa de vinagre de vinho
½ x[icara de óleo de oliva extra virgem
Pimenta do reino moida na hora

Preparo

1. Misture a cebola picada e a mostarda em uma vasilha de fundo redondo. Adicione e suco de limão e o vinagre e mexa com o auxilio de um fuê.
2. Adicione em um fio o óleo de olive a bata em movimentos circulares até virar uma emulsão.
3. Acrescente a pimenta preta. Teste o vinagrete mergulhando uma pequena folha de alface. Experiemnte e faça as correções necessárias.

*Super versátil, esse vinagrete básico pode ser feito em grandes quantidades e armazenado na geladeira por até uma semana.


Parar ajudá-los a entender um pouco mais sobre a importância dessa senhora :

Os EUA dos anos 50 e 60 estavam no auge de seu dourado “american way” mas, por outro lado, encontrava-se no ponto mais baixo e desolador do seu “american cooking way”. Era praticamente impossivel, naquela época, encontrar produtos hortifrutigranjeiros frescos nas prateleiras dos supermercados. Ingredientes simples como alho, cebola, ervas, aipo, folhas verdes, etc, eram artigos quase inimagináveis. No lugar destes , e por toda a parte, proliferavam os milagrosos enlatados, os mágicos bolos e pudins de caixinha, as saudáveis margarinas, os prá-lá-de-práticos junk food e fast food e os cômodos diners. Havia uma obcessão pelos alimentos instantâneos que, por sorte, ajudavam as donas de casa a preservar suas vistosas cozinhas-vitrines em instantânea ordem. Smile, you are being watched !

E é nesse cenário que Julia Child entra para dar um rumo totalmente diferente aos hábitos alimentares dos entusiasmados yanques. Seu programa de TV de imediato e enorme sucesso, “The French Chef”, convidava essas entediadas e sem-ter-muito-o-que-fazer donas-de-seus-castelos a se aventurarem por um território bastante obscuro mas que, certamente, lhes daria uma espécie de rumo, de projeto, de life porpuse que auxiliaria as rainhas-reféns-de-seus-próprios-paraísos- domésticos a preencher um provável vazio existencial! Jogaram-se, então, àvidas como abelhas ao pote de mel, como era de se esperar. Good bye depressão e o resto é história.


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